153
Uma análise sobre a inuência
geopolítica da transição energética
na cadeia de valor global de materiais
críticos
1.-bruna.targino@ppe.ufrj.br
2.- gulelmo@yahoo.com.br
Bruna Targino
1,
Paulo Gulelmo Souza
2
Recibido: 17/11/2024 y Aceptado: 13/12/2024
154
155
A medida que el mundo avanza hacia la transición energética, la demanda por materiales críticos
aumenta signicativamente debido a la necesidad de nuevas tecnologías con baja huella de carbono.
Así, la producción y el procesamiento de minerales y metales altamente concentrados geográcamente,
considerados críticos, representan una dinámica geopolítica compleja de escasez y abastecimiento. En
este sentido, el presente artículo discute la relación entre producción y procesamiento de materiales
considerados críticos con el n de analizar la concentración del mercado de estos materiales en
todo el mundo. Para ello, se utiliza el Índice de Herndahl-Hirschman (IHH) para evaluar el grado de
concentración de los materiales y, en consecuencia, la producción de nuevas dependencias económicas
y geopolíticas. Este análisis busca identicar riesgos asociados con la productividad y la concentración
de estos recursos, esenciales para la transición energética.
As the world moves towards renewable energy sources, the demand for critical materials increases
signicantly due to the need for new low-carbon technologies. In this context, this article discusses
the association between production and processing of materials considered critical in order to analyze
their market concentration around the world. For this purpose, the Herndahl-Hirschman Index (HHI) is
used to assess the degree of concentration of these materials and, consequently, the production of new
economic and geopolitical dependencies. This analysis aims to identify the challenges associated with
the lack and concentration of these resources, which are essential for the energy transition.
PALABRAS CLAVE: Transición energética, Minerales críticos, Índice de concentración
KEYWORDS: Energy transition, Critical minerals, Concentration index
Resumen
Abstract
156
1. INTRODUÇÃO
Para alcançar as metas climáticas estabelecidas
no Acordo de Paris, a descarbonização de
diversos setores como transporte, energia e a
economia global, como um todo, tornou-se uma
prioridade para os governos (Hache, Gondia Seck
& Guedes, 2023). À medida que o mundo avança
para o uso de energias renováveis e de tecnologias
com menor pegada de carbono, surgem novos
desaos associados ao aumento da demanda
por materiais essenciais para a transição
energética (IRENA, 2021). Nesse contexto, há um
objetivo em comum: a reestruturação de sistemas
energéticos, visando a produção de energia limpa,
com o uso e desenvolvimento, por exemplo, de
painéis solares e baterias para veículos elétricos
(Greim et al., 2020).
Ao longo da história, o cenário geopolítico
mundial esteve associado à concentração de
reservas de petróleo, onde os maiores produtores
possuíam vantagens estratégicas sobre a cadeia
de suprimentos (Månberger & Johansson, 2019).
A partir da ascensão das energias renováveis,
a produção e o processamento de minerais e
metais altamente concentrados geogracamente,
considerados críticos, representam uma
dinâmica geopolítica complexa de escassez
e abastecimento (Månberger & Johansson,
2019). Essa mudança sugere que países com
grandes reservas e com grande capacidade no
reno desses minerais críticos podem emergir
enquanto atores estratégicos na geopolítica
global, inuenciando não apenas o mercado,
mas também as cadeias de valor associadas à
transição energética.
Nesse sentido, o objetivo deste estudo é analisar
como a transição energética afeta o mercado de
materiais críticos, considerando a distribuição
de reservas desses materiais, assim como seu
processamento ao redor do mundo. Isto é,
avaliar se a distribuição global desses materiais
representa uma relação de dependência que pode
ser utilizada com objetivos geopolíticos, visto que
são considerados materiais críticos. Para tanto,
utiliza-se o Índice de Herndahl-Hirschman (IHH)
a m de avaliar o grau de concentração tanto
das reservas quanto do processamento desses
materiais.
Na primeira seção deste estudo, apresenta-
se a breve discussão em torno do conceito de
reserva e recurso de materiais críticos diante
da transição energética, assim como discutir
a demanda por esses materiais. Em seguida,
descreve-se a abordagem metodológica utilizada
para atingir os objetivos descritos anteriormente.
O IHH foi aplicado aos seguintes produtos: níquel,
lítio, cobalto e cobre. Por m, apresenta-se uma
discussão em torno dos resultados obtidos
para cada um dos materiais críticos avaliados,
baseando-se no índice IHH. Essa análise discute
a relação da concentração da produção dos
materiais selecionados e o seu processamento,
a m de identicar quais países se destacam
na cadeia de valor e, consequentemente, sua
inuência geopolítica sobre o setor.
157
2. MATERIAIS CRÍTICOS PARA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA:
UMA DISCUSSÃO SOBRE RECURSOS E RESERVAS
Ao longo da história, a transição para outras
fontes de energia esteve associada à demanda
por materiais (Zotin, Rochedo & Szklo, 2023). À
medida que a exploração dos minerais avançou,
tornou-se possível desenvolver novas aplicações
e melhorar o desempenho técnico de diversos
produtos (National Research Council, 2008).
Desde a transição do carvão para o petróleo,
a expansão das indústrias e o surgimento de
novas tecnologias possibilitaram o surgimento de
sistemas energéticos (Fouquet, 2009).
Durante a Revolução Industrial, a máquina
vapor e a expansão das ferrovias aumentaram a
demanda por aço, cobre e outros minerais (Yang
et al. 2021). O acesso às reservas de carvão e às
tecnologias embutidas nesse processo também
contribuíram para que a Inglaterra obtivesse uma
posição de prestígio ao longo do culo XIX,
consolidando-se como uma potência industrial
e econômica (Barak 2015). Da mesma forma,
motores a combustão interna, automóveis e
petroquímicos impulsionaram a expansão da
indústria do petróleo (Groß et al., 2022). O acesso
a combustíveis fósseis conduziu grande parte
da riqueza de países como Estados Unidos e
a antiga União Soviética durante o século XX
(Criekemans, 2023).
Diante desse cenário, a ascensão de energias
renováveis na atual transição energética reitera
o debate sobre a relevância da inovação e dos
avanços tecnológicos no mercado de energia
e suas dinâmicas geopolíticas (Su et al., 2021).
Novas rotas comerciais e uma maior demanda
por matérias-primas consideradas relevantes
para fabricação de tecnologias de energia
renovável intensicam a concorrência para
controlar determinados materiais, considerados
estratégicos para garantir a transição (Hatipoglu,
Al Muhanna & Erd 2020). Ao mesmo tempo, as
áreas de produção de materiais e minerais críticos
também exercem sua inuência no mercado
de energia de modo que países produtores e
consumidores enfrentam riscos geopolíticos
associados à dependência de materiais
(Månberger & Johansson 2019).
A disponibilidade desses minerais e materiais
na natureza para futura extração pode ser
classicada como recursos ou reservas,
dependendo do grau de conhecimento geológico,
maturidade tecnológica e nível de certeza
sobre a viabilidade comercial para explorá-los
(Lundaev et al., 2023). A jazida de minerais cuja
extração é econômica e tecnologicamente viável
é denominada como reserva (Roonwal, 2019).
Esses aspectos fundamentais diferenciam
as reservas dos recursos, que consistem na
disposição de minerais ou materiais alocados na
natureza que são inacessíveis devido a questões
econômicas, tecnológicas e ambientais (National
Research Council. 2008). É necessário destacar
que esses conceitos não consistem em uma
categorização xa, visto que sua classicação
enquanto recursos ou reservas podem variar
de acordo com revisões técnicas, avanços
tecnológicos ou a viabilidade econômica de sua
exploração (Lundaev et al., 2023).
Da mesma forma, a compreensão sobre
o nível de criticidade de materiais também
pode modicar-se ao longo do tempo. Na
literatura, o termo de criticidade é amplo,
pois sua denição é reavaliada à medida
que a preocupação em torno do acesso à
oferta desses materiais é crescente, devido
ao aumento da demanda (Greim et al., 2020).
A segurança do abastecimento de materiais
críticos está associada à sua abundância
e, consequentemente, à sua escassez. Isso
ocorre porque a concentração da oferta desses
materiais, em determinadas regiões, classica-
os como críticos devido à importância que
possuem para a produção de tecnologias
limpas, principalmente em um contexto de
transição energética (Lundaev et al., 2023).
Países dependentes da importação de materiais
se esforçam para garantir o fornecimento de
158
energia e outros recursos necessários para suas
economias. Para tanto, adotam estratégias que
garantam seu acesso aos materiais no mercado
internacional a m de adquirir matéria-prima
para produção de tecnologias essenciais para a
transição energética (Su et al., 2021). Por outro
lado, os países que controlam o processamento
também utilizam seus recursos para aumentar
sua inuência política tanto a um nível regional
quanto global (Månberger & Johansson 2019).
Nesse sentido, a alta concentração da ocorrência
O desenvolvimento de baterias de lítio
desempenha um papel relevante na
descarbonização de certos setores (Hache,
Sokhna Seck & Guedes 2023). Outros minerais
críticos como cobalto, níquel e cobre também
são relevantes para o desenvolvimento de redes
elétricas, armazenamento de energia, tecnologias
de geração fotovoltaicas e eólicas, assim como
sua aplicação em outras tecnologias de baixo
carbono, como na produção de hidrogênio
(Grandell et al., 2016). Como um dos setores
demandantes, tem-se o mercado de baterias
recarregáveis de íon lítio (IEA, 2018). Em 2022, por
exemplo, a venda de carros elétricos ultrapassou
10 milhões de unidades, enquanto a capacidade
dos sistemas de armazenamento dobrou no
de depósitos minerais e produção de materiais e
minerais críticos em poucos países pode implicar
na dependência de tais importações para países
que consomem esses materiais (Korinek & Kim
2011). A gura 1 abaixo ilustra objetivamente essa
questão:
Figura 1 - Produção e processamento de suprimentos para materiais críticos selecionados em 2022
(Ni-Níquel, Li-Lítio, Co-Cobalto e Cu-Cobre)
Fonte: Elaboração própria, com dados da WMD -World Mining Data (2024)
mesmo período. Entre 2017 e 2022, o setor de
energia foi o principal fator que provocou um
aumento de 70% na demanda por cobalto, 40%
por níquel e a uma triplicação na procura por lítio
(IEA, 2023).
159
A gura 2 abaixo ilustra a cadeia de abastecimento de materiais críticos, considerando suas etapas
principais, que envolvem desde a prospecção mineral, extração das minas até o produto nal.
Fonte: IRENA (2023)
O diagrama ilustra a interconexão entre essas
diferentes etapas. Primeiramente inicia-se com
a exploração, caracterização e classicação
enquanto reserva até culminar na etapa de
lavra mineral. Após a extração, os materiais são
transportados para plantas de processamento
mineral, onde são convertidos em minério
concentrado, que variam dependendo da matéria-
prima. O reno inclui as fases de puricação e
ultra-processamento dos minerais, crucial para
retirar as impurezas dos metais, preparando-os
para usos industriais. Cada vez mais, há uma
discussão sobre a reciclagem desses produtos,
incluindo determinados resíduos gerados ao
longo de seu ciclo de vida. A gura 2 também
demonstra a dinâmica de interdependência na
cadeia de abastecimento de materiais críticos
(IRENA, 2023).
Nesse contexto, os países buscam garantir
não apenas o abastecimento, mas posicionar-
se como players relevantes nesse mercado. O
Departamento de Defesa norte-americano, por
exemplo, concedeu $20,6 milhões em 2023 para
avançar na exploração de níquel em Minnesota.
Além disso, o país investiu $90 milhões para apoiar
a reabertura de uma mina de lítio na Carolina do
Norte para retomar as operações até 2035 (U.S.
Geological Survey 2023). Nos últimos anos, a
China também demonstrou sua preocupação
com materiais críticos. O país investiu em
inovações tecnológicas para descarbonização,
tornando-se um dos atores mais relevantes
no registro de patentes na área de engenharia,
química e transportes, de acordo com o relatório
Global Innovation Index (WIPO, 2023). Apesar
de ser desaador prever a demanda futura por
materiais críticos, especialmente a longo prazo,
estima-se que as transformações necessárias
para a transição energética produzam novas
rotas comerciais e outras dinâmicas geopolíticas
(Hache, Sokhna Seck & Guedes 2023).
160
3. MÉTODO
Nesta seção, descreve-se a abordagem utilizada
para analisar como a transição energética afeta
o mercado de materiais críticos. Para tanto,
considera-se a concentração da produção e
do processamento de minerais críticos a m de
avaliar se sua distribuição geográca representa
uma relação de dependência entre países,
associada ao uso desses materiais. Optou-se por
analisar os seguintes produtos: cobre, lítio, níquel
e cobalto. Essa escolha deve-se ao uso desses
materiais na produção de tecnologias necessárias
para a transição energética, como turbinas,
painéis solares e baterias para veículos elétricos.
Para avaliar o grau de dependência, utilizou-se o
Índice de Herndahl-Hirschman (IHH) para medir
a concentração desses mercados.
Ao longo deste estudo, analisou-se a produção e o
processamento dos materiais críticos selecionados
a m de delimitar o foco da investigação, que se
propõe a avaliar o mercado atual de materiais –
desconsiderando as possibilidades de extração
futura em sua análise. Essa escolha metodológica
pretende facilitar a análise da capacidade de
produção atual do mercado de materiais críticos,
visto que o conceito de reservas considera o
total estimado que poderá ser extraído no futuro.
Portanto, focou-se na análise da atividade de
extração, em vez de considerar as reservas,
assumindo que a extração de materiais implica na
disponibilidade de reservas para tal atividade.
Nesse sentido, a primeira seção deste trabalho
consiste na discussão sobre o uso do conceito
de recursos e reservas, assim como discutir
a demanda por esses materiais. Essa etapa
baseia-se na revisão da literatura sobre o tema,
abordando o funcionamento do mercado de
materiais críticos. Em seguida, calcula-se o
Índice de Herndahl-Hirschman (IHH) para cada
produto mencionado anteriormente desde 2020
até 2023 para acompanhar o comportamento
do IHH ao longo do tempo. Isto é, compreender
a dinâmica do mercado de materiais críticos
tanto na extração quanto no processamento. Os
valores considerados para análise foram retirados
do relatório Critical Minerals Market Review 2023
produzido pela International Energy Agency
IEA, publicado em 2023. Por m, discute-se os
resultados obtidos ao longo da realização deste
estudo.
Índices de concentração pretendem indicar o
grau de concorrência em determinado mercado.
Quanto maior o valor do índice de concentração,
menor é o grau de concorrência e mais
concentrado estará o poder de mercado virtual da
indústria (Resende, p. 55, 2013). Nesse sentido,
uma maior concentração industrial signica que
há desigualdades nesse mercado, o que poderá
implicar em maior grau de concentração.
3.1. Índice de Concentração
Diferentes métricas podem ser utilizadas para
medir o grau de concentração de mercado.
Dentre as mais comuns, destacam-se as razões
de concentração (CR), que pode ser denida pela
Fórmula 3.1:
161
3.2. Dados utilizados
O CR(k) indica a parcela que as rmas possuem
em determinado mercado. Por exemplo, CR (5)
trata-se das 5 maiores rmas atuantes (Naldi &
Flamini, 2014). Outra ferramenta analítica é o
Índice de Herndahl–Hirschman (IHH), que busca
mensurar a dimensão das rmas em relação à
indústria que atuam. O IHH, portanto, permite
Elevar o market share de cada empresa ao
quadrado permite atribuir um peso maior às
empresas relativamente maiores. Assim, quanto
mais elevado for o IHH, maior será a concentração
em determinado mercado. Isto é, haverá menor
concorrência entre os produtores (Resende,
2013). Como o IHH trata-se das parcelas de
avaliar o grau de concentração do mercado de
determinado setor (Resende, 2013).
Tal expressão pode ser denida pela Fórmula 3.2:
mercado, três faixas para avaliar o IHH
considerando processos de fusões, assim como
os valores potenciais do índice após a fusão entre
dois atores. Dessa forma, compreende-se que:
Diante das informações apresentadas até aqui,
esta seção explora os dados obtidos sobre a
concentração de materiais críticos, considerando
A concorrência de grandes depósitos minerais
de cobre concentra-se no Chile, Peru, República
Democrática do Congo (RDC) e na China,
respectivamente. A China desempenha um
papel dominante no processamento de cobre,
atuando como principal país neste mercado. De
modo geral, a extração manteve-se estável nos
Tabela 1: Níveis de concentração de mercado.
Fonte: Oliveira (2023)
3.2.1. Cobre
últimos anos, com o aumento da participação
de outros países tanto na extração quanto no
processamento.
Em seguida, o Chile e o Japão também se
destacam em relação ao processamento. Nota-se
que, ao longo dos anos, a extração de cobre nos
a produção e o processamento de cobre, lítio,
níquel e cobalto
162
países selecionados mostrou-se relativamente
constante. O mesmo ocorre no processamento,
com um crescimento menos acelerado em 2023.
A China está aumentando sua capacidade de
processamento de forma consistente, o que pode
indicar um maior domínio no mercado global de
cobre processado. A expansão da produção no
Peru e RDC sugere um aumento na importância
desses países na cadeia de suprimento de cobre.
A tabela 2 e 3 abaixo resumem os dados de
produção e processamento de cobre de alguns
países.
Tabela 2: Produção de cobre
Tabela 3: Processamento de cobre
Tabela 4: Produção de lítio
Fonte: IEA (2023)
Fonte: IEA (2023)
Fonte: IEA (2023)
Os principais países que possuem depósitos
minerais de lítio são Austrália, Chile, China e
Argentina. A Austrália destaca-se na extração,
enquanto a China domina o processamento.
Desde 2020, a capacidade de processamento
da China aumentou de 265 kt para 604 kt em
2023, ou seja, expandiu-se signicativamente. A
participação de outros países cresceu nos últimos
3.2.2. Lítio
anos, o que pode indicar uma maior diversicação
na capacidade do processamento global de lítio,
embora ainda seja pouco expressiva.
A tabela 3 e 4 abaixo resumem os dados de
produção e processamento de lítio de alguns
países.
163
Tabela 5: Processamento de lítio
Tabela 6: Produção de níquel
Tabela 7: Processamento de níquel
Fonte: IEA (2023)
Fonte: IEA (2023)
Fonte: IEA (2023)
A Indonésia concentra os principais depósitos
minerais de níquel e está emergindo como
principal líder no processamento, aumentando
sua capacidade de 0.64 Mt em 2020 para 1.67 Mt
em 2023. Rússia e Canadá também se destacam
no processamento de níquel, mantendo-se
relativamente estável nos últimos anos. Embora
a China seja relevante neste mercado, o país
apresentou um declínio na sua participação no
processamento de níquel, de 0.67 Mt em 2020
3.2.3. Níquel
para 0.43 Mt em 2023. Essa mudança pode
signicar um maior protagonismo da Indonésia
neste mercado. A tabela 5 e 6 abaixo resumem os
dados de produção e processamento de níquel
de alguns países.
164
Tabela 8: Produção de cobalto
Tabela 9: Processamento de cobalto
Fonte: IEA (2023)
Fonte: IEA (2023)
A República Democrática do Congo (DRC)
lidera a produção de cobalto, apresentando um
crescimento de 103 kt em 2020 para 168 kt em
2023, consolidando-se como o principal produtor
mundial. A Indonésia, embora tenha permanecido
relativamente estável, segue como um dos
produtores mais relevantes. A categoria que inclui
outros países mostrou-se mais expressiva nos
Diante das informações apresentadas até aqui,
esta seção explora os resultados obtidos sobre a
concentração de materiais críticos, considerando
a produção e o processamento de cobre, lítio,
níquel e cobalto
As guras abaixo representam o comportamento
do IHH para cobre, lítio, níquel e cobalto,
respectivamente, desde 2020 até 2023, de
acordo com dados estabelecidos pela IEA (2023).
3.2.4. Cobalto
últimos anos, contribuindo para a oferta global. A
China destaca-se no processamento de cobalto,
crescendo de 95 kt em 2020 para 140 kt em
2023. A tabela 7 e 8 abaixo resumem os dados
de produção e processamento de cobalto de
alguns países.
4. RESULTADOS
4.1. Índice de Concentração
O gráco 1 demonstra que o cobalto apresenta a
maior concentração no que se refere à extração,
sugerindo que poucos países controlam a
maior parte das minas em operação de cobalto.
165
Apesar de uma pequena redução em 2022,
o mercado de cobalto mantém-se altamente
concentrado. O IHH de lítio também é elevado e
apresenta uma tendência relativamente estável.
Quanto ao níquel, houve uma maior concentração
O gráco 2 compara o comportamento do IHH no
que se refere ao processamento desses materiais
ao longo dos anos. O cobalto apresenta o maior
índice de concentração, demonstrando que poucos
países dominam o seu processamento. O níquel,
embora relativamente menos concentrado em
2020, apresentou um aumento em 2023. O índice
Figura 3 - IHH das reservas de materiais críticos
Figura 4 - IHH do processamento de materiais críticos
Fonte: Elaboração própria.
Fonte: Elaboração própria.
principalmente a partir de 2022. Por m, o índice
de concentração de cobre mantém-se elevado,
apesar de uma queda em 2023.
de concentração de cobre é elevado, mantendo-
se constante. Por m, o processamento de
cobre é altamente concentrado, no entanto,
manteve-se relativamente estável durante o
período analisado.
166
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E COMENTÁRIOS FINAIS
Ao longo da realização deste trabalho, analisou-
se os principais players do mercado de materiais
críticos, considerando a distribuição global
da produção e do processamento de níquel,
cobalto, cobre e lítio. Dado que as energias
renováveis compõem as estratégias globais para
alcançar metas de descarbonização, optou-se
por investigar se o aumento da demanda por
materiais críticos pode produzir uma relação
de dependência entre países que dominam
essas cadeias de valor. Essa escolha deve-se
à importância desses materiais para produção
de tecnologias renováveis, essenciais para a
transição energética e, consequentemente,
para que os países sejam capazes de cumprir
suas estratégias de mitigação e adaptação às
mudanças climáticas.
A Agência Internacional para as Energias
Renováveis IRENA declarou que é pouco provável
que os materiais críticos reproduzam a dinâmica
geopolítica dos combustíveis fósseis, alegando
que as reservas desses materiais são abundantes
e podem ser processadas em diversos locais
(IRENA, 2023). No entanto, ao avaliar o Índice
de Herndahl-Hirschman (IHH) do mercado de
níquel, lítio, cobre e cobalto no período entre 2020
e 2023, constatou-se que tanto a extração quanto
o processamento dos materiais selecionados são
altamente concentrados, mantendo-se estáveis
durante o período analisado. O alto índice de
concentração do IHH indica que pouca
competição entre os países que compõem essa
cadeia de valor. Ou seja, poucos países dominam
o mercado dos materiais críticos analisados.
Assim, identicou-se que os principais volumes
produzidos se concentram nos países em
desenvolvimento, com exceção da Austrália,
que possui grandes reservas de lítio. O Chile
também se destaca na extração de lítio e
concentra as principais minas em operação
de cobre e lítio. A República Democrática do
Congo lidera na extração de cobalto, enquanto a
Indonésia destaca-se tanto na produção quanto
no processamento de níquel. O Peru é um dos
países mais relevantes em termos de volumes
produzidos de cobre, assim como o Chile. Por
outro lado, o processamento de níquel, cobalto,
cobre e lítio é concentrado principalmente na
China.
A análise do IHH ao longo do tempo revela que
a atividade de mineração de materiais críticos
permanece altamente concentrada em certas
áreas geográcas. Essa concentração signica
que a oferta global desses materiais depende
fortemente de um pequeno número de países,
evidenciando uma falta de diversicação. Da
mesma forma, o processamento desses materiais
é igualmente concentrado, com a capacidade de
reno predominantemente localizada em poucos
países.
Por exemplo, a China possui uma posição
importante, controlando uma parte signicativa
da capacidade global de processamento de
lítio e cobalto. Tal concentração amplica os
riscos associados à cadeia de suprimentos,
pois qualquer interrupção na capacidade de
reno desses poucos países pode impactar
signicativamente a disponibilidade global de
materiais processados. Esse cenário sugere
uma dinâmica de dependência e vulnerabilidade
para países importadores que dependem do
fornecimento desses materiais para ns industriais,
tecnológicos e energéticos. A interrupção no
fornecimento desses materiais processados
pode produzir consequências signicativas para a
cadeia de valor global, visto que são necessários
para o desenvolvimento tecnológico inerente à
transição energética.
Como apontam Sattich et al. (2023), conquistas
geopolíticas vinculadas às energias renováveis
parecem depender, em grande parte, de
avanços industriais. Nesse sentido, o domínio
sobre esses mercados pode oferecer vantagens
competitivas em termos de inovação e avanços
tecnológicos. Países que controlam a mineração
e o processamento de materiais críticos
podem posicionar-se como líderes globais
167
no fornecimento de materiais críticos para a
transição energética, inuenciando não apenas
o mercado, mas também a geopolítica global.
Apesar de possuírem uma geograa de comércio
única que, em nível agregado, envolva os países
em uma rede ampla de interdependência, a
demanda constante por materiais, componentes
ou produtos acabados pode tornar cadeias
de abastecimento mais vulneráveis a riscos
geopolíticos. Por m, essa análise não sugere que
os materiais críticos reproduzam a geopolítica dos
combustíveis fósseis em torno da distribuição
geográca de suas reservas. No entanto, indica
que a transição energética pode recongurar
rotas comerciais e inuenciar novas dinâmicas de
poder global.
Ao analisar os resultados deste estudo, é
fundamental considerar suas limitações. O foco
na extração, sem incluir o total estimado das
reservas, compromete uma interpretação mais
detalhada de longo prazo sobre o mercado de
materiais críticos, visto que o surgimento de novas
tecnologias pode viabilizar a produção em outras
regiões cuja extração era considerada inviável.
Essa distinção é crucial porque o foco do estudo
na extração atual pode não reetir o potencial
de produção alternativo de longo prazo com a
prospecção de novas jazidas e reclassicação
de recursos. Para uma melhor análise, examinar
como o surgimento de novas tecnologias de
mineração e processamento viabiliza a extração
em novas áreas, reduzindo o custo unitário de
produção, contribui para compreender a dinâmica
do mercado de materiais críticos.
6. REFERENCES
Barak, On. “OUTSOURCING: ENERGY AND EMPIRE IN THE AGE OF COAL, 1820-1911.” International Journal
of Middle East Studies 47, no. 3 (2015): 425–45. http://www.jstor.org/stable/43997991.
Criekemans, David. (2023). “Geopolitics, Geoeconomics and Energy Security in an Age of Transition towards
Renewables.” In Handbook on the Geopolitics of the Energy Transition. https://doi.org/10.4337/9781800370432.
Emmanuel Hache, Gondia Sokhna Seck, Fernanda Guedes, and Charlene Barnet. (2023). “Critical Materials
New Dependencies and Resource Curse?,” 12.
Fouquet, R., (2009). A brief history of energy. In: Evans, J., Hunt, L.C. (Eds.), International Handbook of the
Economics of Energy. Edward Elgar Publications, Cheltenham, UK, and Northampton, MA, USA.
Grandell, Leena, Antti Lehtilä, Mari Kivinen, Tiina Koljonen, Susanna Kihlman, and Laura S. Lauri. (2016). “Role of
Critical Metals in the Future Markets of Clean Energy Technologies.” Renewable Energy 95: 53–62. https://doi.
org/10.1016/j.renene.2016.03.102.
Greim, Peter, A. A. Solomon, and Christian Breyer. (2020). “Assessment of Lithium Criticality in the Global Energy
Transition and Addressing Policy Gaps in Transportation.” Nature Communications 11 (1): 1–11. https://doi.
org/10.1038/s41467-020-18402-y.
Hatipoglu, Emre, Saleh Al Muhanna, and Brian Erd. (2020). “Renewables and the Future of Geopolitics: Revisiting
Main Concepts of International Relations from the Lens of Renewables.” Russian Journal of Economics 6 (4):
358–73. https://doi.org/10.32609/J.RUJE.6.55450.
IEA. (2018). “Global EV Outlook 2018 - Towards Cross-Modal Electrication.” https://doi.
org/10.1787/9789264302365-en.
IEA. (2023). “Critical Minerals Market Review 2023.” Critical Minerals Market Review 2023. https://doi.
org/10.1787/9cdf8f39-en.
IRENA. (2021). Securing Critical Minerals for the Energy Transition. Canadian Mining Journal. Vol. 142.
168
IRENA. (2023). “Geopolitics of the Energy Transition: Critical Materials.” Journal of Geographical Sciences. Vol. 33.
https://doi.org/10.1007/s11442-023-2101-2.
Korinek, Jane, and Jeonghoi Kim. (2011). “Export Restrictions on Strategic Raw Materials and Their Impact on
Trade and Global Supply.” Journal of World Trade 45 (2): 255–81. https://doi.org/10.54648/trad2011009.
Lundaev, Vitalii, A. A. Solomon, Tien Le, Alena Lohrmann, and Christian Breyer. (2023). “Review of Critical Materials
for the Energy Transition, an Analysis of Global Resources and Production Databases and the State of Material
Circularity.” Minerals Engineering. https://doi.org/10.1016/j.mineng.2023.108282.
Månberger, André, and B. Johansson. (2019). “The Geopolitics of Metals and Metalloids Used for the Renewable
Energy Transition.” Energy Strategy Reviews 26 (December 2018). https://doi.org/10.1016/j.esr.2019.100394.
Marianne Zotin, Pedro Rochedo, Joana Portugal-Pereira, and and Roberto Schaefer Alexandre Szklo. (2023).
“CRITICAL CONNECTIONS IN MATERIAL TRANSITIONS AND ENERGY TRANSITIONS.” In , 7823–30.
Naldi, Maurizio, and M. Flamini. (2014). The CR4 Index and the Interval Estimation of the Herndahl-Hirschman
Index: An Empirical Comparison.
National Research Council. (2008). “Minerals, Critical Minerals, and the U.S. Economy.” Society II: 790.
Oliveira, Isabela Fernandes De. (2023). “MERCADO BRASILEIRO DE VEÍCULOS ELÉTRICOS: UMA AVALIAÇÃO
A PARTIR DA INTEGRAÇÃO DA ANÁLISE PESTAL AO MODELO ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO ( ECD
).”
Resende, Marcelo; Hugo Bo. (2013). “Economia Industrial.” In Revista de Administração de Empresas, 35:86–
87. https://doi.org/10.1590/s0034-75901995000500012.
Robert Groß, Jan Streeck, Nelo Magalhães, Fridolin Krausmann, Helmut Haberl, Dominik Wiedenhofer, (2022).
How the European recovery program (ERP) drove France’s petroleum dependency, 1948–1975, Environmental
Innovation and Societal Transitions, Volume 42, 2022, Pages 268-284, ISSN 2210-4224. https://doi.org/10.1016/j.
eist.2022.01.002.
Roonwal, G S. (2019). Springer Geology Mineral Exploration: Practical Application. http://www.springer.com/
series/10172.
Su, Chi Wei, Khalid Khan, Muhammad Umar, and Weike Zhang. (2021). “Does Renewable Energy Redene
Geopolitical Risks?” Energy Policy 158 (August). https://doi.org/10.1016/j.enpol.2021.112566
Thomas Sattich, Stephen Agyare e Oluf Langhelle. (2023). Solar powers renewables and sustainable development
around the world or geostrategic competition? Handbook on the Geopolitics of the Energy Transition. https://doi.
org/10.4337/9781800370432
U.S. Geological Survey. (2023). Mineral Commodities Summary 2024. Mineral Commodity Summaries 2023.
http://pubs.er.usgs.gov/publication/mcs2023.
WMD. (2024). World Mining Data. https://www.world-mining-data.info/?World_Mining_Data___Data_Section.
WIPO. (2023). Global Innovation Index 2023 Innovation in the Face of Uncertainty. International Journal
of Technology. Vol. 47. https://doi.org/10.1016/j.tranpol.2019.01.002%0Ahttps://doi.org/10.1016/j.
cstp.2023.100950%0Ahttps://doi.org/10.1016/j.geoforum.2021.04.007%0Ahttps://doi.org/10.1016/j.
trd.2021.102816%0Ahttps://doi.org/10.1016/j.tra.2020.03.015%0Ahttps://doi.org/10.1016/j.eastsj.20.
Yang, Jianfeng, Yun Yu, Teng Ma, Cuiguang Zhang, and Quan Wang. (2021). “Evolution of Energy and Metal
Demand Driven by Industrial Revolutions and Its Trend Analysis.” Chinese Journal of Population Resources and
Environment 19 (3): 256–64. https://doi.org/10.1016/j.cjpre.2021.12.028.
169
7. APÊNDICE A: TABELAS DE MARKET SHARE E S²
Tabela 10: Market Share e S² da extração do cobre
Tabela 11: Market Share e S² do processamento do cobre
Tabela 12: Market Share e S² da extração do lítio
Tabela 13 Market Share e S² do processamento do lítio
Tabela 14: Market Share e S² da extração do níquel
Tabela 15: Market Share e S² do processamento do níquel
170
Tabela 16: Market Share e S² da extração do cobalto
Tabela 17: Market Share e S² do processamento do cobalto