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4. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A GERAÇÃO
DISTRIBUÍDA NO BRASIL
O desenvolvimento sustentável deve ser visto
nas suas dimensões. Nessa seção, analisaremos
o crescimento da GD no Brasil a luz da ideia de
desenvolvimento sustentável, ou seja, analisaremos
como o crescimento da GD no Brasil impactou nas
dimensões ambiental, econômica e social.
Conforme dito anteriormente, o Brasil terminou
2023 com 26.5 GW de potência instalada de GD,
das quais 99% eram provenientes da fonte Solar
Fotovoltaica (FV). Assim sendo, podemos dizer
que o crescimento da GD no Brasil contribuiu
para o desenvolvimento sustentável na dimensão
ambiental, uma vez que favoreceu o aumento
da oferta de eletricidade a partir de uma fonte
renovável de energia. Ademais, se olharmos o
crescimento da fonte solar FV no Brasil podemos
constatar que esta se deu majoritariamente via
GD, dado que 70% da potência total de energia
solar FV instalada no Brasil até 2023 é proveniente
da GD (Absolar, 2025).
O crescimento da GD é aparentemente positivo
na dimensão econômica, uma vez que os
investimentos nesse setor geram renda, emprego
e arrecadação para o governo. Segundo a Absolar,
de 2012 a 2023 a GD no Brasil foi responsável por
investir cerca de R$142 bilhões e arrecadar mais
de R$42 bilhões de impostos (Canal Energia,
2024). Em termos de geração de empregos, em
2022 o Brasil empregou cerca de 241 mil pessoas
no setor de energia solar FV, sendo o quarto
país no mundo com mais empregos neste setor
(IRENA, 2023a). No entanto, é preciso destacar
o impacto negativo do crescimento da GD na
contratação de outras fontes renováveis no Brasil
e analisar o tipo de emprego gerado.
O crescimento da GD no Brasil se deu
majoritariamente via instalação de placas FV
importadas e, portanto, os empregos gerados no
setor não ocorrem em setores industriais, mas
nos setores de vendas, instalação e operação
e manutenção, que são tipicamente fornecidos
por pequenas empresas e utilizam mão de obra
com baixa qualicação (IRENA, 2023a). Ademais,
o crescimento da GD no Brasil gerou uma
sobreoferta de eletricidade5 e, consequentemente,
reduziu a demanda por outras fontes de energia,
em especial a energia eólica. Ocorre que a
indústria eólica brasileira, alvo de diversas políticas
públicas6, vem crescendo desde o início dos anos
2000 de tal forma que atualmente o aerogerador
produzido no Brasil possui, em média, 80% de
conteúdo local7. Em 2022 o Brasil foi o quinto
país no mundo que mais empregou trabalhadores
no setor de energia eólica, sendo boa parte dos
empregos no setor industrial de produção de
componentes do aerogerador (IRENA, 2023a).
Portanto, o crescimento acelerado da GD, que
é baseado na importação de placas FV, está
resultando na diminuição tanto da contratação de
energia eólica quanto da qualidade dos empregos
gerados nos setores de energia.
Apesar do crescimento da GD ter contribuído para
o aumento de uma fonte renovável de energia, a
solar FV, esta gerou impactos negativos quando
analisamos a dimensão social, como veremos a
seguir.
Segundo a ANEEL (2024a), dos 26,5 GW de
potência de GD instalados no Brasil até 2023
aproximadamente 47% era proveniente do setor
residencial, 30% do setor comercial, 15% do setor
5.-Em 2020 a demanda por eletricidade no Brasil caiu 1%, mas a potência instalada de solar FV via GD aumentou em 134%, batendo o
recorde anual de instalação com cerca de 2,9 GW (EPE, 2021; ABSOLAR, 2025). De 2021 a 2024 o crescimento da potência solar FV via GD
foram sempre superiores ao aumento da demanda por eletricidade no Brasil.
6.-A Política de Conteúdo Local do BNDES (via name) para o aerogerador e o foco dado pelos programas de Subvenção da FINEP e de P&D
da ANEEL são exemplos de políticas públicas adotadas para desenvolver a indústria eólica nacional.
7.-Neste caso, o valor de 80% de Conteúdo Local signica que o Brasil produz internamente equipamentos do aerogerador que juntos
representam 80% do valor do aerogerador.